19/04/2010

Tempos

Por Jaqueline Bueno


No tempo onde não havia explicação nem no dicionário decidi repensar conceitos e estabelecer metas para despertar uma nova visão. Ouvi uma canção no mais íntimo do meu ser e descobri a pessoa dentro de mim. Deixei para trás as más lembranças e o chão de terra batida. O cheiro do mato e de uma planta nativa da região que incomodava não mais se mistura com o aroma do feijão preparado num pequeno espaço onde mal cabiam duas pessoas.


Os ratos dançarinos foram-se em comitiva na direção oposta. A ausência de calor humano, percebido quando se tentava ocupar o último dos únicos três cômodos, não é mais sentida. A confusão feita entre a temperatura do corpo doente e a temperatura provocada pela estação do ano ficou na antiga casa de madeira emprestada por tempo indeterminado.

Carreguei o som das brigas e as incertezas por anos. As seqüelas foram inevitáveis. Não foi escolha, foi o que restou e agora tento não pensar naquele mato no entorno do barraco. As flores plásticas foram trocadas pelas naturais, com o orvalho da manhã. A solidão e a falta do colo materno, por quase 15 meses, trouxeram a maturidade e o pensamento racional.

A cor verde da tinta fresca deu-me inspiração. Antes a divisão dos cômodos era feita com os móveis para nada ficar exposto. Hoje se tornou um tipo de decoração moderna. O silêncio predominante nos poucos metros quadrados foi revertido em acordes no violão. E o concretotransformou a dúvida em verdade e alegria.

*Este texto foi escrito durante o curso de Jornalismo Narrativo - exercício de digressão.

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