29/11/2010

Inerente ao ser humano

Dizem que o medo serve para prevenir certas dores, dissabores. Mas o medo nos torna vulneráveis, inertes, vazios, inseguros, temidos. Quando mais se precisa de coragem é que ele aparece.

Pedir demissão do emprego, vender o carro para conseguir pagar o melhor ensino para seu filho ou o plano de saúde, morar sozinho quando se tem tudo ao alcance das mãos, dar o primeiro beijo, pedir em casamento. Cada instante do medo dura muito tempo.

Mas nesse esperar nem sempre nos precavemos de problemas e acabamos carregando muitos deles para o resto de nossas vidas. É o tal do primeiro passo. Por isso, devemos acreditar que o medo é inexorável, mas também é decisivo, revigorante.

Para mim, o medo tem sempre sinônimo de decisão, seja para melhor ou para pior. Apesar de sempre conseguir encontrar o lado bom. Mas ele também significa amor, amizade, projeção, prospecção, conquista. 

É com o receio que enfrentamos os obstáculos, conhecemos nossos limites e deixamos as pessoas mais especiais entrarem em nossa rotina e tornar o corriqueiro algo sublime, diferente e apaixonante.

13/10/2010

Vários cliques, várias histórias!

Parceria com meu amigo fotógrafo Juh Bass.


APENAS OLHEM E SINTAM! 




Fotos: Juh Bass 

28/09/2010

Não há milagres

Quando seus sonhos são roubados ou interrompidos
e seus amigos se vão,
seja para sempre ou para o outro lado do mundo,
o sol deixa de brilhar com a mesma intensidade.
Sob a luz da lua não se acende mais a fogueira,
 não se ouvem os acordes no violão
e as crianças se calam para você passar.


Então só lhe resta ir para casa,
mas seu cachorro não pula mais de alegria ao te ver chegar
e em todos os canais da TV só exibem aquela mesma cena,
a típica cena do ermitão que você se identifica todas as vezes.
O mundo fica cinzento, a alma fica cinzenta.
E o que lhe resta é recostar a cabeça no travesseiro
até o sono chegar e esse tempo ir embora.


06/09/2010

A vida é assim

Quando pequena eu podia escolher entre brincar com minhas bonecas ou assistir ao desenho animado. Com o tempo, me foi permitido jogar bolinha de gude com meus primos ou andar de bicicleta no quintal de casa. Logo, poderia me dedicar ao teatro com crianças da mesma idade ou estudar música clássica ao lado de músicos conhecidos regionalmente.

Durante estes 10 anos da minha vida, sempre acreditei na minha liberdade, pois me davam opções e, com minha pequena estatura e ingenuidade, apontava para qual atividade gostaria de praticar. No fundo, sabia que havia uma censura, mas não me dava conta disso. Queria mesmo era me divertir, além de estudar e aprender princípios familiares, éticos e morais.

Passados mais cinco anos, tive a oportunidade de trabalhar e continuava a crer que a escolha era minha. Aos dezoito ganhei de presente de aniversário a chance de me locomover com mais facilidade. Num documento estava estampada minha foto, meu número de identificação, nome do pai e da mãe e mais um bocado de informações que naquele instante me faria uma pessoa ainda mais livre, com o poder de escolha ainda maior, mais significativo.


Aos 23, sei que todas as minhas escolhas sempre foram induzidas, direcionadas ao ponto de não querer nenhuma das opções, mas selecionava uma para não ficar sem nada. Porém, algo de bom acontece hoje, mesmo não tendo quase nada, tenho o que eu quero, o que realmente me interessa, aquilo que optei por vontade própria e ainda a certeza, a convicta certeza de que continuo a sofrer e que ser livre não é tão fácil como pressupus.

20/08/2010

Curta ‘Dossiê Rê Bordosa’, de César Cabral

Clique aqui http://bit.ly/3Mtl0v

Vale a pena saber o motivo pelo qual Angeli matou Rê Bordosa!

16/08/2010

13/07/2010

Cadê a minha fé?


Dentro de mim mora um ser, só pode ser isso. Mas ele me incomoda de tal maneira que não consigo pensar, não consigo acreditar, nem ver, muito menos entender. Onde está a minha fé? Onde está a minha crença num ser superior? Nem no ambiente, nem em deuses ou deusas, muito menos na imensidão.

Os sonhos estão escapando pelo vão dos meus dedos, mas isso não significa que são muitos, porque alguns já se perderam e outros começaram a ruir. Onde está a minha fé em transformar o mundo, nem que seja devagarzinho?

Às vezes o vento tenta ajudar e sopra no ouvido uma lógica, mas o caos dentro da minha cabeça faz uma curva e o leva para longe. Apenas a intuição permanece, mas também não é suficiente. E vem um medo que germina, cresce e floresce. Parece que vai morrer, mas é forte o bastante para permanecer dentro de mim. Parece o outro ser.

Acho que fui roubada e não me dei conta, se bem que ela pode ter sido seqüestrada e pede por socorro, mas não tenho como saber, pois só senti a falta dela agora. Eu devia estar dormindo quando se foi. Quero minha fé de volta! 

05/07/2010

22/06/2010

Na terra do futebol tudo é compreendido

Época de Copa do mundo é um barato, ainda mais quando se tem homens e mulheres assistindo aos jogos (dou preferência para os do Brasil) no mesmo metro quadrado.

Faltando meia hora para começar, os rapazes já se posicionam em frente a TV para não perder nenhum comentário inicial ou uma entrevista do interesse deles. Enquanto as moçoilas, não muito longe, comentam da cor do esmalte e da combinação verde e amarela no cabelo, no cinto, na blusinha, no sapato, na pulseira e por aí vai.

Cinco minutos antes do jogo, o narrador começa o seu emocionante discurso (lembrando que o discurso só é emocionante se considerarmos o público). Minutos depois a escalação do time adversário é mostrada na tela e o ti-ti-ti logo ali continua. Em seguida, os nomes dos jogadores da seleção brasileira aparecem no vídeo e começa a correria e os toque toques dos saltos altos.

Sim, elas passam em frente a TV, pedem desculpa, dão um risinho e passam do mesmo jeito. Fazer o quê?

Primeiro tempo do jogo, a primeira falta contra o Brasil e uma delas solta a pérola: “Por que isso aconteceu, ele é tão bonitinho?”.  Sai o primeiro gol, os rapazes se abraçam, pulam no meio da sala (naqueles metros quadrados que disse anteriormente); elas também, mas colocam os pés para cima para não serem pisoteados e não estragar o esmalte.



No segundo tempo, quando o goleiro brasileiro defende o chute do adversário todos vibram pela bola não ter entrado no gol, uma das moçoilas grita histericamente: GOOOOOOOLLLLLLLL!!! (Silêncio geral!). É, foi necessário explicar o que havia acontecido. Mas quando a bola balança a rede adversária, a vibração é imensa, os gritos e as vuvuzelas ultrapassam as paredes e a tal, que havia comemorado antecipada e erroneamente, nem sequer sai do sofá.

Não é uma crítica às mulheres, afinal sou uma delas. São apenas observações. Porém, os homens não ficam de fora. Nos momentos de euforia, eles se beijam, se abraçam, seguram as mãos e depois de toda a alegria voltam com o discurso machista: “Olha lá aquele jogador, será que precisa beijar tanto o outro?”.

No final, o patriotismo é evidente e a reunião vira uma festa interminável. Pelo menos na minha família é assim. Se o jogo tem início às três da tarde, o povo chega às onze da manhã e só vai embora por volta das dez da noite depois ter experimentado a canja.

O Brasil é assim, cheio de pessoas diferentes e ao mesmo tempo iguais. Que venham mais jogos e que venha o HEXA!! 

01/05/2010

Uma maneira para vivermos melhor

De uns tempos pra cá tenho pensado sobre a compaixão, se é um ato espontâneo ou se temos que trabalhar nosso interior para que ela apareça  e se intensifique. Duvidei da sua existência por alguns minutos, mesmo sabendo que em muitos momentos a percebo dentro de mim.

Os dicionários trazem o sinônimo para compaixão como o ato de entender o estado emocional de outra pessoa, de compreender o sofrimento de alguém que você não conhece e ainda de sentir vontade de acabar com esse sentimento mesmo nunca tendo visto a pessoa antes.

E nesse pensar constante, tenho sentido ainda mais vontade de colocar em prática todos os significados dessa tal compaixão, desse sentimento esquecido aqui no fundo do peito. E a cada dia presenciando boas atitudes descubro que a minha dúvida não é em vão, pois a compaixão é algo tão intenso e verdadeiro que se pode duvidar.


Não acho que possa ser entendida como dó, nem como pena de alguém, pois com ela é possível encontrar um equilíbrio e você passa a entender muito melhor o outro.

Inspirada nisso tudo, apresento a vocês um vídeo do "Doutores do Bem". Eu acredito que essa galera compreende o que digo.



Para entrar em contato com este grupo envie um e-mail para ana.marta.alvares@gmail.com ou ligue: (18)97085621

26/04/2010

Fábrica da Leitura e Coletivo VIDA promovem 1º EducaVEG

Por Jaqueline Bueno

Para trocar informações, ideias e apresentar a filosofia vegetariana, o grupo Coletivo V.I.D.A. (Veículo de Intervenção pelo Direito Animal), em parceria com a ONG Fábrica da Leitura, realizou no último domingo (25) a primeira edição do EducaVEG. Cerca de 30 pessoas entre vegetarianos, veganos e simpatizantes se reuniram na sede da associação.

Fotos: Jaqueline Bueno

O evento foi dividido em duas partes: na primeira, o grupo explicou o surgimento do Coletivo VIDA, discutiu sobre o abate de animais para o consumo, as experiências realizadas para teste de remédio e inovações tecnológicas e apresentaram alternativas para estes fins. Já no segundo momento, os participantes puderam trocar experiências e informações sobre os mitos e verdades da saúde do vegetariano, sobre abolicionismo animal e diplomacia vegetariana. 

A universitária Marília Okuyama, 20, há quatro anos adotou uma nova maneira de se alimentar e acha importante que haja essas discussões. “É interessante porque podemos trocar experiências e ainda atingir mais pessoas, sendo elas vegetarianas ou não. Eu adorei o espaço, as pessoas e os assuntos abordados”, disse.

Nesta edição do EducaVEG, os organizadores também ofereceram um lanche feito com produtos naturais para os participantes. “Apesar de eu não ser vegetariano, gosto muito da filosofia e apoio a ideia, porém respeito quem ainda não mudou a maneira de pensar”, defendeu o universitário Leandro Silva Semegini, de 21 anos.

“A expectativa sobre o evento foi atingida, porque nós conseguimos apresentar os temas de maneira clara, as pessoas participaram fazendo comentários e exemplificando com histórias de vida e a conversa rendeu”, disse Alex Piguinelli, um dos integrantes do Coletivo VIDA. 

Para a vice-presidente da Fábrica da Leitura, Suely da Silva Lima, a parceria com o VIDA já mostrou resultado. “A intenção é continuar fazendo eventos com o pessoal para que o espaço da Fábrica cumpra o seu objetivo de disseminar cultura, informação e de contribuir de alguma maneira com a transformação das pessoas”, afirmou.

Durante o evento, os participantes também receberam uma revista preparada pela organização com textos referentes aos temas abordados e puderam adquirir adesivos, DVDs e camisetas personalizadas.


Crie






Fotos: Jaqueline Bueno

19/04/2010

Sete de abril


Hoje é o dia do jornalista e eu queria tanto escrever algo sobre a profissão, contar histórias, relatar fatos, fotografar, registrar, rascunhar, mas decidi parar um pouco e refletir sobre a profissão escolhida por mim.

Portanto, darei uma pausa e em breve compartilharei minhas ideias, opiniões e reflexões.
Um forte abraço.

Jaque Bueno

Sucumba à tentação





Por Jaqueline Bueno


Sabe aquela história de que Páscoa não é só o chocolate? Pode até ser, mas não podemos negar que a melhor parte é essa. Na verdade, para muitas pessoas (eu me enquadro aí), a comilança da deliciosa mistura do cacau com leite, castanhas e outras coisitas dura o ano todo é como no poema do grande Vinícius... “que seja infinito enquanto dure”.

Outra conversa que me tira do sério nessa época é “vai gastar dinheiro com isso?”, duvido se você ganhasse uma caixa repleta de chocolates, trufas, bombons e tudo o mais que se pode ter nessa época se não iria abrir um sorrisão e também não diria a frase clichê sobre não precisar do presente. Sai dessa! Aproveita... o chocolate traz benefícios para corpo e para a alma também.

Uma vez li uma matéria sobre um estudo ‘chocolatístico’ (o sufixo ístico lembra estatístico, números, somas, acho que o neologismo vale nesse caso) que revelava os benefícios do delicioso, maravilhoso, magnífico... ops, voltemos ao tradicional chocolate. Segundo a pesquisa, “os antioxidantes presentes no chocolate amargo combatem os radicais livres, retardando, assim, o envelhecimento, e ajudam a diminuir os níveis de LDL (o mau colesterol) no sangue”. Além disso, podemos encontrar no doce as “vitaminas A,B, C, D e E-- e sais minerais, como o ferro e o fósforo”.


As histéricas de plantão poderão dizer que apesar de conter tudo isto, o chocolate é altamente calórico. E daí? Na vida tudo deve ser moderado, por isso basta ter bom senso. Afinal, quantas ‘porcarias’ comemos ao longo da nossa vida. Uma vez pelo menos, eu recomendo. Depois é só dar uma corridinha, fazer uma caminhada. Se isso ainda não for hábito, quem sabe pode mudar.

Já levantei a bandeira tempos atrás sobre querer chinelo para vida toda, hoje mudarei o lema: “Quero chocolate para o resto da minha vida”. E que o coelhinho venha me visitar quantas vezes quiser. Feliz Páscoa a todos!

Contradições e devaneios

Por Jaqueline Bueno

Por mais que você faça planejamentos, a vida sempre te surpreende e te mostra que o momento não é aquele. Por mais que você se esforce e passe anos se dedicando a uma única ação, mesmo tendo outras em paralelo, mas faz daquela a primordial, a vida sempre sopra no seu ouvido sobre não pensar muito naquilo.

As pessoas vivem dizendo sobre direcionar pensamentos e despender energias para determinada coisa, porém quando você tem a convicta certeza sobre a sua realização, sempre tem mais a frente.

Você passa quase toda a sua existência fazendo e mantendo contatos – faço uso do gerúndio para perceber quão movimentada é nossa vida, quão cíclica ela é e como passamos a nos importar com isso apenas quando ela parece estática – e no final quantas desses milhares de pessoas passam por você e sorriem, ou falam um bom dia educadamente e sem pressa, ou tentam salvar uma vida, não a sua, mas a de alguém que tanto precisa?

Encontrar o equilíbrio para alguns pode parecer fácil, só que não é bem assim. Administrar família, carreira, amizades e amores tem sido uma tarefa um tanto árdua para muitos. Mas isso não justifica os atos, pois o caráter é moldado ao longo das primaveras e as experiências e reflexões pelos outonos.

Durante todas as estações buscamos nos tornar mais humanos, sensíveis, presentes e tentamos encontrar oportunidades para seguirmos o caminho correto. No final, percebemos que as cores das flores, a melancolia das folhas secas, a rigidez do vento gelado e o calor dos dias passam por nós com uma insignificância tamanha; as pessoas também. Mas nós podemos mudar isso.

Ideologia, um fator de ordem

Por Jaqueline Bueno

A indústria cultural cria necessidades e as ações vindas dela são bem planejadas para as pessoas acreditarem que se estão consumindo algo é porque precisam e não porque lhe impuseram aquilo. Assim tornam-se servis aos seus comandos, movem-se conforme as regras, alienam-se e submetem-se a horas de desperdício de tempo pelo “falso prazer”. Não exercem, de fato, a sua liberdade e se privam de conteúdos enriquecedores, levando a uma visão cada vez mais reducionista e materialista imposta pelo capital, pelas disparidades sociais, culturais e econômicas.

A ideia de ordem e progresso é ideológica, pois não é possível ordenar uma sociedade baseada no imediatismo, no efêmero e muito menos haver um progresso significativo em que a dignidade humana não é colocada em prática.

O filme “Cama de gato” contrapõe essa indústria cultural de caráter político, econômico e social – nessa ordem – que desapropria o saber. Este filme, realizado com uma verba mínima se comparado às produções Hollywoodianas, levanta questões como a violência gerada por uma sociedade excludente, de aparências. Discute ainda a relação entre as pessoas, a falta de ajuda mútua, de controle e de limites. E aponta como uma educação sólida e solidária, com princípios e metas, modifica o pensar e o agir, sem propiciar vantagens apenas “aos mais potentes interesses”, além de apresentar as consequências de atos impensáveis.

A chamada estandardização - padronização dos gostos - é planejada e, intencionalmente, gerada para levar ao consumo, pois quanto mais pessoas consumirem a mesma coisa, haverá menos discussões em torno dessa coisa. Essa falta de consciência leva aos problemas vividos atualmente, como por exemplo, o aumento no índice de pessoas obesas com níveis culturais e financeiros baixos, pois como afirma o pediatra Alessandro Danesi, “comida ruim é barata”.

De acordo com resultados das pesquisas do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília (UnB), apresentados na edição de novembro/2009 da Revista Brasil, “71,6% dos alimentos anunciados na TV são: fast food, guloseimas e sorvetes, refrigerante e suco natural, salgadinho de pacote e biscoito doce ou bolo; e 73,1% dos produtos estão prontos para consumo – a maioria em gordura, sal e açúcar”. Neste caso, não importa a qualidade, mas a aparência e a máxima de que se fulano usa ou consome, terei que usar e consumir para me sentir aceito socialmente e ainda porque não exigirá muito de mim.

Felizmente, se se diz que o “mundo quer ser enganado” teremos que concordar em partes, pois há pessoas deixando de curva-se para o monopólio da indústria cultural e buscando subsídios para que todos percebam a importância de incorporar o espírito de criticidade e de liberdade oportuna

O que é ser rondonista?*


Imagino que todos se perguntaram durante toda a viagem o que é o Rondon. Por que nós estamos reunidos, numa comunidade tão istante da nossa, com pessoas diferentes de nós... Bom... Nós, equipe de Paraúna, não sabemos a resposta exata para essas perguntas, mas sentimos que tudo se transformou durante essa experiência tão maravilhosa.


Durante todo o percurso da viagem transpusemos barreiras... Abrimos mão de manias, superamos medos, dividimos o que outrora nos era indivisível.


A realidade nua e crua da vida de outras pessoas abriu a nossa mente para além das nossas próprias vontades e nos permitiu ver que não estamos aqui apenas para seguir caminhos individualizados, tão somente para formar multiplicadores. A bem da verdade, se surgirem multiplicadores será mérito único e exclusivamente dos moradores da comunidade.


Estamos aqui porque somos o futuro. Somos os próximos a fazer leis... A gerir a economia, a saúde, a educação... A escrever as notícias dos jornais, a direcionar as relações externas brasileira, a dirigir as políticas de proteção ambiental, a gerenciar indústrias, desenvolver as pesquisas tecnológicas... Enfim, somos os próximos a presidir este país.

E como faremos tudo isso se não conhecermos a fundo a realidade e os anseios do povo brasileiro?



É óbvio que com essa experiência não conhecemos a maior de todas as necessidades desse povo tão imenso e diversificado. Entretanto, podemos afirmar uma coisa, nada é como nós imaginávamos. A noção de realidade mudou, expandiu um pouquinho mais e certamente nos tornamos mais do que rondonistas, mais do que formadores de multiplicadores, mais do que humanos sensíveis... Nos fundimos ao nosso povo e nos tornamos realmente BRASILEIROS!


Este RONDON já está acabando. Estamos voltando para a correria do dia-a-dia, junto com nossos familiares e amigos. Mas certamente valeu muito cada segundo dessas duas semanas em PARAÚNA.


Todos os abraços, olhares e palavras que recebemos, as novas amizades que firmamos, a dedicação e o companheirismo do nosso querido anjo Neves... Verdadeiro instrumento de Deus, um ser humano exemplar e inesquecível... Tudo irá nos acompanhar eternamente.


E sem dúvida, quando formos os líderes deste país não tomaremos as decisões pensando apenas em nossa individualidade, mas também e principalmente naqueles que nos ensinaram muito mais do que aprenderam.


É com imenso carinho que nós do IMESA e da UNB agradecemos... Muito obrigado Rondon! Muito obrigado Paraúna! Obrigado, muito obrigado, Neves!

*Este texto foi escrito pela equipe de rondonistas que atuou em Paraúna- GO. O grupo foi composto por professores e alunos do Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis (Ébano, Osmar, Anderson, Jaqueline, Heloísa, Izaura, Celso e Guilherme) e da Universidade de Brasília (Regina, Éric, Mainnã, Felipe, Rafael, Marina e Aline) e foi citado como exemplo pelo General responsável.

O lado negro

Por Jaqueline Bueno

Hoje eu acordei com uma vontade danada de voltar para casa. Na verdade, dormi pensando nisso. Quase sessenta mulheres dividindo o mesmo espaço. As camas estão enfileiradas, de frente umas com as outras, as luzes estão enfileiradas, as vidas também. Este é um dos motivos que me faz querer sair correndo daqui.

Estou experimentando uma cegueira que atinge o íntimo, tateia a individualidade e procura o que antes era real. A sensação é de estar num outro país, com uma cultura completamente distinta. A língua é a mesma, mas a linguagem é completamente diferente. Isso se chama Brasil, como os soldados gritam por aqui e completam: “Acima de tudo”.



Neste espaço as crenças e os valores se cruzam e se confundem. E assim como as camas, as luzes e as pessoas, comecei a pôr em fila também as minhas vontades e refleti sobre as minhas atitudes.


Estou há duas noites dormindo em um beliche, numa cama em cima de uma companheira de viagem. A garota estuda na mesma faculdade onde conclui minha graduação, nunca nos encontramos e agora precisei ensiná-la o valor de um simples ‘’por favor” ou “obrigado”. Esses ensinamentos eu trago de casa, o lugar para onde quero muito voltar; ela os levará para lá.

Momentos estranhos e inesquecíveis estou passando num quartel onde se é acordado às 5h50 com tiros e bombas na janela e com as notas musicais dos instrumentos dos soldados. Coisas raras, como todas as pessoas nesse metro quadrado repleto de cores branca, verde e marrom.

Se já valorizava a minha vida ao lado das pessoas que amo, como minha família, meus amigos e o povo da minha terra, agora passei a adorá-las, honrá-las e a agradecê-las por serem como eu e por me ensinarem a respeitar as diferenças, sem importar a situação.

Apesar de tudo, nesse momento deitada em uma cama que não é minha, com um travesseiro que não é meu e com pessoas que não me pertencem, acredito ainda mais na força de cada um, acredito no ser humano.


*O texto foi escrito durante a viagem do Projeto Rondon que aconteceu de 22 de janeiro a 08 de fevereiro de 2010.

Cuidado com os dentes

Reportagem: Jaqueline Bueno

Jorge Kajuru em Assis

Reportagem: Jaqueline Bueno

Biblioteca Nina Silva

Reportagem: Jaqueline Bueno


Numa rua logo ali - Parte 1

Por Jaqueline Bueno e Suely da Silva Lima

A confusão de vozes, a mistura de cores fazendo a visão se perder e logo buscar um novo foco, a diversidade de cheiros, o aroma adocicado das frutas junto com o cheiro de fritura, do tipo que se sente na casa da vó. Muita gente. Muito riso.


- Essa é da boa.

- Doce de sidra...

-Olha, escureceu!

- Quanto tá esse tomate?

- R$3,00.

- Hum... o limão tá grande.


A alegria não está só nas pessoas, mas também nas cores vivas das lonas cobrindo as barracas, nos cones plásticos listrados demarcando o espaço. A placa amarela que identifica o local fica encostada perto de um matagal atrás da primeira banca à direita. Desnecessária.


Em Assis, no trecho conhecido como Travessa Sorocabana, onde as ruas Floriano Peixoto e 11 de junho se confundem, é um ponto de encontro onde não se marca encontro. Aqui é obrigatório andar a pé aos domingos de manhã. Sem pressa, as pessoas se ‘acham’ casualmente, fazem novos amigos, descobrem novos sabores e aproveitam o tempo sem culpa, nem preocupações.


Com um certo gingado, de 28 anos de feira, laranja e faca nas mãos, o cândido-motense Josué vem cuspindo sementes e falando muito com o seu chapéu de lona na cabeça e um sorriso engraçado. “Minha casa, meu carro consegui com o dinheiro daqui, tudo o que eu tenho”, explica enquanto aponta para as abobrinhas, os tomates e outros legumes que ficam na sua barraca em uma das extremidades da feira, na entrada.


Entre os feirantes, Josué é conhecido como um dos sortudos da rifa. Os prêmios sempre são frangos e porcos assados. “Eu gasto de 15 a 17 reais por rifa. Mesmo que eu não ganhe, eu ajudo todo mundo”. A renda arrecadada com as apostas é revertida para a AFRA – Associação dos Feirantes de Assis e Região, que organiza as feiras livres e os feirantes da cidade.


A rifa da AFRA é vendida pelo “Seu” José Carlos Farias que não gosta muito, mas faz para ajudar os outros. Somente os feirantes podem tentar a sorte e garantir um assado no almoço de domingo. Mas para isso tem que ter coragem, pois como revela o Seu José,“os dois maiores ganhadores da rifa são o Josué e o Pacheco”.

- Tá vendo? Ele (José) chega e joga a rifa aqui na banca com medo de que a gente não queira comprar, mas só aqueles dois é que ganham”, duvida a doceira Adeusir Fornazari. Ela é fruta fresca na feira, faz dois meses que vende doces caseiros na barraca.


- Eles (feirantes) acham que eu faço ‘chucho’. É que os dois compram bastante. – explica.

Com 63 anos, o vendedor de rifas, desde que sofreu um acidente e machucou a coluna, durante a construção de um dos prédios do programa do Governo Estadual, está tentando se aposentar. Ele tem quatro filhos e é casado com a Marilza Farias, 50 anos, que vende artesanato de dez pessoas em uma única barraca.




Foto: Jaqueline Bueno


Os feirantes lucram em média R$400 reais por dia - este valor é calculado por eles -, mas mesmo assim têm alguns que não conseguem pagar todas as contas. É o caso de Marcelo dos Santos, 33 anos, que herdou uma dívida do pai feirante. Agora ele e sua esposa Lucilene, um ano mais nova, mudaram a rotina para participarem de todas as feiras realizadas em Assis e solucionarem o problema. “Faz três meses que ele morreu, por isso estamos aqui. Acho que dentro de quatro meses já vamos conseguir o dinheiro, pagar as contas que ele deixou e daí vamos vender a barraca”, conta com tristeza. Na banca, alho e grãos trazidos da capital paulista e de Minas Gerais.


- Quanto tá o quilo do alho? - pergunta um senhor de barba grossa que empurra sua bicicleta em meio a multidão.


- Tem de R$11,50...R$9,75 e R$8,80. – responde com voz de feira.


- Beemmm graúdo, hein.- retruca o senhor da bicicleta. O adjetivo foi dado para o alho e para o preço.


O professor de Língua Portuguesa, Milton Martins, que tem dois filhos morando no exterior e um que “não faz nada sem pedir para a mãe”, sempre vai à feira porque acha que os produtos são melhores e mais baratos. “Hoje eu vim apenas para comprar chicória e alho, porque estamos com um peixe no fogo e minha mulher está em casa com umas visitas. Sempre passo um bom tempo na feira, mas hoje estou querendo gastar apenas alguns minutos”, se despede e sai cumprimentando umas pessoas.

É preciso organizar

Por Jaqueline Bueno e Suely da Silva Lima

Com 65 associados, que pagam uma mensalidade de R$20, a AFRA – Associação dos Feirantes de Assis e Região - organiza as feiras e os feirantes de Assis , no inteiror de São Paulo. Lá pelos idos de setembro de 2004, um grupo de pessoas resolveu fundar a Associação para não precisar depender de verba pública e ninguém ficar no sufoco.

“O bom de ter a Associação é que fica mais fácil conseguir parcerias, financiamentos e comprar os produtos mais baratos como, por exemplo, as embalagens”, contou a descendente de italianos, Edneide Rodrigues Dalle Vedove, que assumiu o cargo de 1ª tesoureira da Afra em agosto deste ano.

Foto: Jaqueline Bueno

Para vender qualquer tipo de produto na feira, antes é preciso conversar com o fiscal que orienta o possível feirante sobre a aceitação do seu produto naquele espaço. Também é ele quem indica o lugar onde a barraca de cada pessoa vai ficar. Às vezes, ele é tido no sentido mais pleno da palavra: aquele que vigia, mas na verdade “é preciso de alguém que coloque tudo em ordem”.

Todos os membros da Associação dos Feirantes de Assis e Região são voluntários, apenas José Spera é funcionário público municipal. É ele quem fiscaliza e ajuda na organização das feiras livres de Assis desde 1988, permaneceu no cargo durante oito anos, com a troca de prefeitos deixou a função por um tempo, mas uma mobilização dos amigos feirantes o trouxe de volta, apesar de alguns não gostarem de sua presença.

“Eu e o Spera temos muito em comum. Gostamos das coisas certas e tudo o que temos para falar, falamos direto para a pessoa”, comenta a tesoureira da Associação.

Faz alguns meses que o Presidente faleceu e a AFRA está em fase de mudanças. Por isso, todas as pessoas envolvidas estão “correndo atrás” para colocarem tudo em ordem. A Associação não tem sede, porém o endereço para correspondência ainda é o do antigo presidente na Rua Pompéia, 700, na Vila Progresso.
Foto: Jaqueline Bueno
Rifa vendida entre os feirantes para arrecadar dinheiro para AFRA

“Alguns feirantes reclamam de pagar a mensalidade, mas é com esse dinheiro que conseguimos realizar eventos, confraternizações, sorteios e pagar outras contas”.

As feiras livres de Assis são realizadas de terça a domingo. Os feirantes passam às terças-feiras pela Praça da Mocidade, às quartas eles se dividem entre a Concha Acústica e a Rua Lopes Trovão, na Vila Progresso. Todas as quintas é a vez da Praça da Bíblia, nas sextas na Vila Adileta. A chamada feira da Gelosom é sempre aos sábados e, aos domingos, dia em que mais gente procura os produtos frescos do espaço, é na Travessa Sorocabana.