Todo dia é a mesma coisa, as mesmas pessoas, a mesma ida e volta, o mesmo eu, mas não a mesma alegria. O tempo parou num instante. Flores, frutas, borboletas se misturavam com as bolinhas multicolores do pijama que traz tranquilidade e, às vezes, segurança.
Saltos pelas descobertas num labirinto com agradáveis odores. Parei e pensei em quando eu era criança. Que vontade de voltar no tempo e pular amarelinha, correr no campo, roubar amoras no vizinho, esmagá-las nas mãos, passá-las pelo corpo e chegar gritando, fingindo ter se cortado e ouvir a voz serena daquela senhora que cuidou dos sete netos e educava-os com vara feita de couro, de boi ou de cavalo?Já nem me lembro mais.
Agora, volto no tempo em passos curtos e rápidos, sem um tempo para ela e com medo de logo perdê-la. O que será de nós? Nossas tardes de domingo cheirando o quinto café feito para aquelas pessoas que antes eram pessoinhas e os bolinhos duros... Ahh! Preciso pensar nisso.
Crescer é bom, mas viver como criança é melhor ainda: o abraço, a bagunça nos cabelos de fios mesclados de branco, cinza e uns pretinhos tímidos me remetem a momentos únicos.
De uns meses para cá, tenho sentido uma falta tão intensa dela, que os poucos minutos sentada ao lado da vózinha, uma vez por semana, não têm sido suficientes. Chega a ser uma dor interna, afrouxada pelo sorrisinho recebido ao chegar ao portão.
Tenho medo de que o labirinto da vida não possibilite mais o reencontro e que tomemos rumos diferentes. Pois estamos tão perto e tão longe. Quero que a rotina continue para nós, porque todo dia ela faz tudo sempre igual e é natural, simples e verdadeiro.
Não sei o por quê, mas de um pensamento, de um começo de escrita parti para este caminho, senti o cheiro do frango, do arroz sem sal, ouvi seus risos pelo beijo roubado na tela da TV e pela fala arrastada do personagem cinematográfico e mais uma vez sua voz:
- Fia, não vai não! Fica.
E agora eu me pego pensando:
- Fia, não vai não! Fica.
*Texto desenvolvido em setembro de 2009 durante curso de Jornalismo Literário - Narrativas de transformação
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