A confusão de vozes, a mistura de cores fazendo a visão se perder e logo buscar um novo foco, a diversidade de cheiros, o aroma adocicado das frutas junto com o cheiro de fritura, do tipo que se sente na casa da vó. Muita gente. Muito riso.
- Essa é da boa.
- Doce de sidra...
-Olha, escureceu!
- Quanto tá esse tomate?
- R$3,00.
- Hum... o limão tá grande.
A alegria não está só nas pessoas, mas também nas cores vivas das lonas cobrindo as barracas, nos cones plásticos listrados demarcando o espaço. A placa amarela que identifica o local fica encostada perto de um matagal atrás da primeira banca à direita. Desnecessária.
Em Assis, no trecho conhecido como Travessa Sorocabana, onde as ruas Floriano Peixoto e 11 de junho se confundem, é um ponto de encontro onde não se marca encontro. Aqui é obrigatório andar a pé aos domingos de manhã. Sem pressa, as pessoas se ‘acham’ casualmente, fazem novos amigos, descobrem novos sabores e aproveitam o tempo sem culpa, nem preocupações.
Com um certo gingado, de 28 anos de feira, laranja e faca nas mãos, o cândido-motense Josué vem cuspindo sementes e falando muito com o seu chapéu de lona na cabeça e um sorriso engraçado. “Minha casa, meu carro consegui com o dinheiro daqui, tudo o que eu tenho”, explica enquanto aponta para as abobrinhas, os tomates e outros legumes que ficam na sua barraca em uma das extremidades da feira, na entrada.
Entre os feirantes, Josué é conhecido como um dos sortudos da rifa. Os prêmios sempre são frangos e porcos assados. “Eu gasto de
A rifa da AFRA é vendida pelo “Seu” José Carlos Farias que não gosta muito, mas faz para ajudar os outros. Somente os feirantes podem tentar a sorte e garantir um assado no almoço de domingo. Mas para isso tem que ter coragem, pois como revela o Seu José,“os dois maiores ganhadores da rifa são o Josué e o Pacheco”.
- Tá vendo? Ele (José) chega e joga a rifa aqui na banca com medo de que a gente não queira comprar, mas só aqueles dois é que ganham”, duvida a doceira Adeusir Fornazari. Ela é fruta fresca na feira, faz dois meses que vende doces caseiros na barraca.
- Eles (feirantes) acham que eu faço ‘chucho’. É que os dois compram bastante. – explica.
Com 63 anos, o vendedor de rifas, desde que sofreu um acidente e machucou a coluna, durante a construção de um dos prédios do programa do Governo Estadual, está tentando se aposentar. Ele tem quatro filhos e é casado com a Marilza Farias, 50 anos, que vende artesanato de dez pessoas em uma única barraca.

Os feirantes lucram
- Quanto tá o quilo do alho? - pergunta um senhor de barba grossa que empurra sua bicicleta em meio a multidão.
- Tem de R$11,50...R$9,75 e R$8,80. – responde com voz de feira.
- Beemmm graúdo, hein.- retruca o senhor da bicicleta. O adjetivo foi dado para o alho e para o preço.
O professor de Língua Portuguesa, Milton Martins, que tem dois filhos morando no exterior e um que “não faz nada sem pedir para a mãe”, sempre vai à feira porque acha que os produtos são melhores e mais baratos. “Hoje eu vim apenas para comprar chicória e alho, porque estamos com um peixe no fogo e minha mulher está em casa com umas visitas. Sempre passo um bom tempo na feira, mas hoje estou querendo gastar apenas alguns minutos”, se despede e sai cumprimentando umas pessoas.
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