26/04/2010

Fábrica da Leitura e Coletivo VIDA promovem 1º EducaVEG

Por Jaqueline Bueno

Para trocar informações, ideias e apresentar a filosofia vegetariana, o grupo Coletivo V.I.D.A. (Veículo de Intervenção pelo Direito Animal), em parceria com a ONG Fábrica da Leitura, realizou no último domingo (25) a primeira edição do EducaVEG. Cerca de 30 pessoas entre vegetarianos, veganos e simpatizantes se reuniram na sede da associação.

Fotos: Jaqueline Bueno

O evento foi dividido em duas partes: na primeira, o grupo explicou o surgimento do Coletivo VIDA, discutiu sobre o abate de animais para o consumo, as experiências realizadas para teste de remédio e inovações tecnológicas e apresentaram alternativas para estes fins. Já no segundo momento, os participantes puderam trocar experiências e informações sobre os mitos e verdades da saúde do vegetariano, sobre abolicionismo animal e diplomacia vegetariana. 

A universitária Marília Okuyama, 20, há quatro anos adotou uma nova maneira de se alimentar e acha importante que haja essas discussões. “É interessante porque podemos trocar experiências e ainda atingir mais pessoas, sendo elas vegetarianas ou não. Eu adorei o espaço, as pessoas e os assuntos abordados”, disse.

Nesta edição do EducaVEG, os organizadores também ofereceram um lanche feito com produtos naturais para os participantes. “Apesar de eu não ser vegetariano, gosto muito da filosofia e apoio a ideia, porém respeito quem ainda não mudou a maneira de pensar”, defendeu o universitário Leandro Silva Semegini, de 21 anos.

“A expectativa sobre o evento foi atingida, porque nós conseguimos apresentar os temas de maneira clara, as pessoas participaram fazendo comentários e exemplificando com histórias de vida e a conversa rendeu”, disse Alex Piguinelli, um dos integrantes do Coletivo VIDA. 

Para a vice-presidente da Fábrica da Leitura, Suely da Silva Lima, a parceria com o VIDA já mostrou resultado. “A intenção é continuar fazendo eventos com o pessoal para que o espaço da Fábrica cumpra o seu objetivo de disseminar cultura, informação e de contribuir de alguma maneira com a transformação das pessoas”, afirmou.

Durante o evento, os participantes também receberam uma revista preparada pela organização com textos referentes aos temas abordados e puderam adquirir adesivos, DVDs e camisetas personalizadas.


Crie






Fotos: Jaqueline Bueno

19/04/2010

Sete de abril


Hoje é o dia do jornalista e eu queria tanto escrever algo sobre a profissão, contar histórias, relatar fatos, fotografar, registrar, rascunhar, mas decidi parar um pouco e refletir sobre a profissão escolhida por mim.

Portanto, darei uma pausa e em breve compartilharei minhas ideias, opiniões e reflexões.
Um forte abraço.

Jaque Bueno

Sucumba à tentação





Por Jaqueline Bueno


Sabe aquela história de que Páscoa não é só o chocolate? Pode até ser, mas não podemos negar que a melhor parte é essa. Na verdade, para muitas pessoas (eu me enquadro aí), a comilança da deliciosa mistura do cacau com leite, castanhas e outras coisitas dura o ano todo é como no poema do grande Vinícius... “que seja infinito enquanto dure”.

Outra conversa que me tira do sério nessa época é “vai gastar dinheiro com isso?”, duvido se você ganhasse uma caixa repleta de chocolates, trufas, bombons e tudo o mais que se pode ter nessa época se não iria abrir um sorrisão e também não diria a frase clichê sobre não precisar do presente. Sai dessa! Aproveita... o chocolate traz benefícios para corpo e para a alma também.

Uma vez li uma matéria sobre um estudo ‘chocolatístico’ (o sufixo ístico lembra estatístico, números, somas, acho que o neologismo vale nesse caso) que revelava os benefícios do delicioso, maravilhoso, magnífico... ops, voltemos ao tradicional chocolate. Segundo a pesquisa, “os antioxidantes presentes no chocolate amargo combatem os radicais livres, retardando, assim, o envelhecimento, e ajudam a diminuir os níveis de LDL (o mau colesterol) no sangue”. Além disso, podemos encontrar no doce as “vitaminas A,B, C, D e E-- e sais minerais, como o ferro e o fósforo”.


As histéricas de plantão poderão dizer que apesar de conter tudo isto, o chocolate é altamente calórico. E daí? Na vida tudo deve ser moderado, por isso basta ter bom senso. Afinal, quantas ‘porcarias’ comemos ao longo da nossa vida. Uma vez pelo menos, eu recomendo. Depois é só dar uma corridinha, fazer uma caminhada. Se isso ainda não for hábito, quem sabe pode mudar.

Já levantei a bandeira tempos atrás sobre querer chinelo para vida toda, hoje mudarei o lema: “Quero chocolate para o resto da minha vida”. E que o coelhinho venha me visitar quantas vezes quiser. Feliz Páscoa a todos!

Contradições e devaneios

Por Jaqueline Bueno

Por mais que você faça planejamentos, a vida sempre te surpreende e te mostra que o momento não é aquele. Por mais que você se esforce e passe anos se dedicando a uma única ação, mesmo tendo outras em paralelo, mas faz daquela a primordial, a vida sempre sopra no seu ouvido sobre não pensar muito naquilo.

As pessoas vivem dizendo sobre direcionar pensamentos e despender energias para determinada coisa, porém quando você tem a convicta certeza sobre a sua realização, sempre tem mais a frente.

Você passa quase toda a sua existência fazendo e mantendo contatos – faço uso do gerúndio para perceber quão movimentada é nossa vida, quão cíclica ela é e como passamos a nos importar com isso apenas quando ela parece estática – e no final quantas desses milhares de pessoas passam por você e sorriem, ou falam um bom dia educadamente e sem pressa, ou tentam salvar uma vida, não a sua, mas a de alguém que tanto precisa?

Encontrar o equilíbrio para alguns pode parecer fácil, só que não é bem assim. Administrar família, carreira, amizades e amores tem sido uma tarefa um tanto árdua para muitos. Mas isso não justifica os atos, pois o caráter é moldado ao longo das primaveras e as experiências e reflexões pelos outonos.

Durante todas as estações buscamos nos tornar mais humanos, sensíveis, presentes e tentamos encontrar oportunidades para seguirmos o caminho correto. No final, percebemos que as cores das flores, a melancolia das folhas secas, a rigidez do vento gelado e o calor dos dias passam por nós com uma insignificância tamanha; as pessoas também. Mas nós podemos mudar isso.

Ideologia, um fator de ordem

Por Jaqueline Bueno

A indústria cultural cria necessidades e as ações vindas dela são bem planejadas para as pessoas acreditarem que se estão consumindo algo é porque precisam e não porque lhe impuseram aquilo. Assim tornam-se servis aos seus comandos, movem-se conforme as regras, alienam-se e submetem-se a horas de desperdício de tempo pelo “falso prazer”. Não exercem, de fato, a sua liberdade e se privam de conteúdos enriquecedores, levando a uma visão cada vez mais reducionista e materialista imposta pelo capital, pelas disparidades sociais, culturais e econômicas.

A ideia de ordem e progresso é ideológica, pois não é possível ordenar uma sociedade baseada no imediatismo, no efêmero e muito menos haver um progresso significativo em que a dignidade humana não é colocada em prática.

O filme “Cama de gato” contrapõe essa indústria cultural de caráter político, econômico e social – nessa ordem – que desapropria o saber. Este filme, realizado com uma verba mínima se comparado às produções Hollywoodianas, levanta questões como a violência gerada por uma sociedade excludente, de aparências. Discute ainda a relação entre as pessoas, a falta de ajuda mútua, de controle e de limites. E aponta como uma educação sólida e solidária, com princípios e metas, modifica o pensar e o agir, sem propiciar vantagens apenas “aos mais potentes interesses”, além de apresentar as consequências de atos impensáveis.

A chamada estandardização - padronização dos gostos - é planejada e, intencionalmente, gerada para levar ao consumo, pois quanto mais pessoas consumirem a mesma coisa, haverá menos discussões em torno dessa coisa. Essa falta de consciência leva aos problemas vividos atualmente, como por exemplo, o aumento no índice de pessoas obesas com níveis culturais e financeiros baixos, pois como afirma o pediatra Alessandro Danesi, “comida ruim é barata”.

De acordo com resultados das pesquisas do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília (UnB), apresentados na edição de novembro/2009 da Revista Brasil, “71,6% dos alimentos anunciados na TV são: fast food, guloseimas e sorvetes, refrigerante e suco natural, salgadinho de pacote e biscoito doce ou bolo; e 73,1% dos produtos estão prontos para consumo – a maioria em gordura, sal e açúcar”. Neste caso, não importa a qualidade, mas a aparência e a máxima de que se fulano usa ou consome, terei que usar e consumir para me sentir aceito socialmente e ainda porque não exigirá muito de mim.

Felizmente, se se diz que o “mundo quer ser enganado” teremos que concordar em partes, pois há pessoas deixando de curva-se para o monopólio da indústria cultural e buscando subsídios para que todos percebam a importância de incorporar o espírito de criticidade e de liberdade oportuna

O que é ser rondonista?*


Imagino que todos se perguntaram durante toda a viagem o que é o Rondon. Por que nós estamos reunidos, numa comunidade tão istante da nossa, com pessoas diferentes de nós... Bom... Nós, equipe de Paraúna, não sabemos a resposta exata para essas perguntas, mas sentimos que tudo se transformou durante essa experiência tão maravilhosa.


Durante todo o percurso da viagem transpusemos barreiras... Abrimos mão de manias, superamos medos, dividimos o que outrora nos era indivisível.


A realidade nua e crua da vida de outras pessoas abriu a nossa mente para além das nossas próprias vontades e nos permitiu ver que não estamos aqui apenas para seguir caminhos individualizados, tão somente para formar multiplicadores. A bem da verdade, se surgirem multiplicadores será mérito único e exclusivamente dos moradores da comunidade.


Estamos aqui porque somos o futuro. Somos os próximos a fazer leis... A gerir a economia, a saúde, a educação... A escrever as notícias dos jornais, a direcionar as relações externas brasileira, a dirigir as políticas de proteção ambiental, a gerenciar indústrias, desenvolver as pesquisas tecnológicas... Enfim, somos os próximos a presidir este país.

E como faremos tudo isso se não conhecermos a fundo a realidade e os anseios do povo brasileiro?



É óbvio que com essa experiência não conhecemos a maior de todas as necessidades desse povo tão imenso e diversificado. Entretanto, podemos afirmar uma coisa, nada é como nós imaginávamos. A noção de realidade mudou, expandiu um pouquinho mais e certamente nos tornamos mais do que rondonistas, mais do que formadores de multiplicadores, mais do que humanos sensíveis... Nos fundimos ao nosso povo e nos tornamos realmente BRASILEIROS!


Este RONDON já está acabando. Estamos voltando para a correria do dia-a-dia, junto com nossos familiares e amigos. Mas certamente valeu muito cada segundo dessas duas semanas em PARAÚNA.


Todos os abraços, olhares e palavras que recebemos, as novas amizades que firmamos, a dedicação e o companheirismo do nosso querido anjo Neves... Verdadeiro instrumento de Deus, um ser humano exemplar e inesquecível... Tudo irá nos acompanhar eternamente.


E sem dúvida, quando formos os líderes deste país não tomaremos as decisões pensando apenas em nossa individualidade, mas também e principalmente naqueles que nos ensinaram muito mais do que aprenderam.


É com imenso carinho que nós do IMESA e da UNB agradecemos... Muito obrigado Rondon! Muito obrigado Paraúna! Obrigado, muito obrigado, Neves!

*Este texto foi escrito pela equipe de rondonistas que atuou em Paraúna- GO. O grupo foi composto por professores e alunos do Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis (Ébano, Osmar, Anderson, Jaqueline, Heloísa, Izaura, Celso e Guilherme) e da Universidade de Brasília (Regina, Éric, Mainnã, Felipe, Rafael, Marina e Aline) e foi citado como exemplo pelo General responsável.

O lado negro

Por Jaqueline Bueno

Hoje eu acordei com uma vontade danada de voltar para casa. Na verdade, dormi pensando nisso. Quase sessenta mulheres dividindo o mesmo espaço. As camas estão enfileiradas, de frente umas com as outras, as luzes estão enfileiradas, as vidas também. Este é um dos motivos que me faz querer sair correndo daqui.

Estou experimentando uma cegueira que atinge o íntimo, tateia a individualidade e procura o que antes era real. A sensação é de estar num outro país, com uma cultura completamente distinta. A língua é a mesma, mas a linguagem é completamente diferente. Isso se chama Brasil, como os soldados gritam por aqui e completam: “Acima de tudo”.



Neste espaço as crenças e os valores se cruzam e se confundem. E assim como as camas, as luzes e as pessoas, comecei a pôr em fila também as minhas vontades e refleti sobre as minhas atitudes.


Estou há duas noites dormindo em um beliche, numa cama em cima de uma companheira de viagem. A garota estuda na mesma faculdade onde conclui minha graduação, nunca nos encontramos e agora precisei ensiná-la o valor de um simples ‘’por favor” ou “obrigado”. Esses ensinamentos eu trago de casa, o lugar para onde quero muito voltar; ela os levará para lá.

Momentos estranhos e inesquecíveis estou passando num quartel onde se é acordado às 5h50 com tiros e bombas na janela e com as notas musicais dos instrumentos dos soldados. Coisas raras, como todas as pessoas nesse metro quadrado repleto de cores branca, verde e marrom.

Se já valorizava a minha vida ao lado das pessoas que amo, como minha família, meus amigos e o povo da minha terra, agora passei a adorá-las, honrá-las e a agradecê-las por serem como eu e por me ensinarem a respeitar as diferenças, sem importar a situação.

Apesar de tudo, nesse momento deitada em uma cama que não é minha, com um travesseiro que não é meu e com pessoas que não me pertencem, acredito ainda mais na força de cada um, acredito no ser humano.


*O texto foi escrito durante a viagem do Projeto Rondon que aconteceu de 22 de janeiro a 08 de fevereiro de 2010.

Cuidado com os dentes

Reportagem: Jaqueline Bueno

Jorge Kajuru em Assis

Reportagem: Jaqueline Bueno

Biblioteca Nina Silva

Reportagem: Jaqueline Bueno


Numa rua logo ali - Parte 1

Por Jaqueline Bueno e Suely da Silva Lima

A confusão de vozes, a mistura de cores fazendo a visão se perder e logo buscar um novo foco, a diversidade de cheiros, o aroma adocicado das frutas junto com o cheiro de fritura, do tipo que se sente na casa da vó. Muita gente. Muito riso.


- Essa é da boa.

- Doce de sidra...

-Olha, escureceu!

- Quanto tá esse tomate?

- R$3,00.

- Hum... o limão tá grande.


A alegria não está só nas pessoas, mas também nas cores vivas das lonas cobrindo as barracas, nos cones plásticos listrados demarcando o espaço. A placa amarela que identifica o local fica encostada perto de um matagal atrás da primeira banca à direita. Desnecessária.


Em Assis, no trecho conhecido como Travessa Sorocabana, onde as ruas Floriano Peixoto e 11 de junho se confundem, é um ponto de encontro onde não se marca encontro. Aqui é obrigatório andar a pé aos domingos de manhã. Sem pressa, as pessoas se ‘acham’ casualmente, fazem novos amigos, descobrem novos sabores e aproveitam o tempo sem culpa, nem preocupações.


Com um certo gingado, de 28 anos de feira, laranja e faca nas mãos, o cândido-motense Josué vem cuspindo sementes e falando muito com o seu chapéu de lona na cabeça e um sorriso engraçado. “Minha casa, meu carro consegui com o dinheiro daqui, tudo o que eu tenho”, explica enquanto aponta para as abobrinhas, os tomates e outros legumes que ficam na sua barraca em uma das extremidades da feira, na entrada.


Entre os feirantes, Josué é conhecido como um dos sortudos da rifa. Os prêmios sempre são frangos e porcos assados. “Eu gasto de 15 a 17 reais por rifa. Mesmo que eu não ganhe, eu ajudo todo mundo”. A renda arrecadada com as apostas é revertida para a AFRA – Associação dos Feirantes de Assis e Região, que organiza as feiras livres e os feirantes da cidade.


A rifa da AFRA é vendida pelo “Seu” José Carlos Farias que não gosta muito, mas faz para ajudar os outros. Somente os feirantes podem tentar a sorte e garantir um assado no almoço de domingo. Mas para isso tem que ter coragem, pois como revela o Seu José,“os dois maiores ganhadores da rifa são o Josué e o Pacheco”.

- Tá vendo? Ele (José) chega e joga a rifa aqui na banca com medo de que a gente não queira comprar, mas só aqueles dois é que ganham”, duvida a doceira Adeusir Fornazari. Ela é fruta fresca na feira, faz dois meses que vende doces caseiros na barraca.


- Eles (feirantes) acham que eu faço ‘chucho’. É que os dois compram bastante. – explica.

Com 63 anos, o vendedor de rifas, desde que sofreu um acidente e machucou a coluna, durante a construção de um dos prédios do programa do Governo Estadual, está tentando se aposentar. Ele tem quatro filhos e é casado com a Marilza Farias, 50 anos, que vende artesanato de dez pessoas em uma única barraca.




Foto: Jaqueline Bueno


Os feirantes lucram em média R$400 reais por dia - este valor é calculado por eles -, mas mesmo assim têm alguns que não conseguem pagar todas as contas. É o caso de Marcelo dos Santos, 33 anos, que herdou uma dívida do pai feirante. Agora ele e sua esposa Lucilene, um ano mais nova, mudaram a rotina para participarem de todas as feiras realizadas em Assis e solucionarem o problema. “Faz três meses que ele morreu, por isso estamos aqui. Acho que dentro de quatro meses já vamos conseguir o dinheiro, pagar as contas que ele deixou e daí vamos vender a barraca”, conta com tristeza. Na banca, alho e grãos trazidos da capital paulista e de Minas Gerais.


- Quanto tá o quilo do alho? - pergunta um senhor de barba grossa que empurra sua bicicleta em meio a multidão.


- Tem de R$11,50...R$9,75 e R$8,80. – responde com voz de feira.


- Beemmm graúdo, hein.- retruca o senhor da bicicleta. O adjetivo foi dado para o alho e para o preço.


O professor de Língua Portuguesa, Milton Martins, que tem dois filhos morando no exterior e um que “não faz nada sem pedir para a mãe”, sempre vai à feira porque acha que os produtos são melhores e mais baratos. “Hoje eu vim apenas para comprar chicória e alho, porque estamos com um peixe no fogo e minha mulher está em casa com umas visitas. Sempre passo um bom tempo na feira, mas hoje estou querendo gastar apenas alguns minutos”, se despede e sai cumprimentando umas pessoas.

É preciso organizar

Por Jaqueline Bueno e Suely da Silva Lima

Com 65 associados, que pagam uma mensalidade de R$20, a AFRA – Associação dos Feirantes de Assis e Região - organiza as feiras e os feirantes de Assis , no inteiror de São Paulo. Lá pelos idos de setembro de 2004, um grupo de pessoas resolveu fundar a Associação para não precisar depender de verba pública e ninguém ficar no sufoco.

“O bom de ter a Associação é que fica mais fácil conseguir parcerias, financiamentos e comprar os produtos mais baratos como, por exemplo, as embalagens”, contou a descendente de italianos, Edneide Rodrigues Dalle Vedove, que assumiu o cargo de 1ª tesoureira da Afra em agosto deste ano.

Foto: Jaqueline Bueno

Para vender qualquer tipo de produto na feira, antes é preciso conversar com o fiscal que orienta o possível feirante sobre a aceitação do seu produto naquele espaço. Também é ele quem indica o lugar onde a barraca de cada pessoa vai ficar. Às vezes, ele é tido no sentido mais pleno da palavra: aquele que vigia, mas na verdade “é preciso de alguém que coloque tudo em ordem”.

Todos os membros da Associação dos Feirantes de Assis e Região são voluntários, apenas José Spera é funcionário público municipal. É ele quem fiscaliza e ajuda na organização das feiras livres de Assis desde 1988, permaneceu no cargo durante oito anos, com a troca de prefeitos deixou a função por um tempo, mas uma mobilização dos amigos feirantes o trouxe de volta, apesar de alguns não gostarem de sua presença.

“Eu e o Spera temos muito em comum. Gostamos das coisas certas e tudo o que temos para falar, falamos direto para a pessoa”, comenta a tesoureira da Associação.

Faz alguns meses que o Presidente faleceu e a AFRA está em fase de mudanças. Por isso, todas as pessoas envolvidas estão “correndo atrás” para colocarem tudo em ordem. A Associação não tem sede, porém o endereço para correspondência ainda é o do antigo presidente na Rua Pompéia, 700, na Vila Progresso.
Foto: Jaqueline Bueno
Rifa vendida entre os feirantes para arrecadar dinheiro para AFRA

“Alguns feirantes reclamam de pagar a mensalidade, mas é com esse dinheiro que conseguimos realizar eventos, confraternizações, sorteios e pagar outras contas”.

As feiras livres de Assis são realizadas de terça a domingo. Os feirantes passam às terças-feiras pela Praça da Mocidade, às quartas eles se dividem entre a Concha Acústica e a Rua Lopes Trovão, na Vila Progresso. Todas as quintas é a vez da Praça da Bíblia, nas sextas na Vila Adileta. A chamada feira da Gelosom é sempre aos sábados e, aos domingos, dia em que mais gente procura os produtos frescos do espaço, é na Travessa Sorocabana.

Melhor tempero de feira


Por Jaqueline Bueno e Suely da Silva Lima


Foto: Jaqueline Bueno


Em um telefonema, numa fala firme porém desconfiada, a vendedora de pastéis passou as primeiras informações necessárias sobre a Associação dos Feirantes de Assis e Região e pediu para marcamos um encontro.


Às 15h, horário em que ela estaria teoricamente desocupada, na Rua Antônio Luciano Gomes, em uma casa em reforma onde não se podia ver o número, foi identificada porque “fica em frente ao 565, é o 566”. Uma doce senhora vestida com uma blusa branca estampada de rosa com uns raios azuis, shorts, chinelo nos pés e um óculos de grau que disfarçavam o verde dos seus olhos, atendeu a porta.


Edneide Dalle Vedove, tem 46 anos, é casada e teve o seu segundo filho aos 40. “Senti uma bolinha do lado da barriga. Como eu sempre estive com sobrepeso, não percebi. Fui ao médico, contei o que estava acontecendo e ele disse que era para já fazermos a ‘ultrasom’. Estranhei, mas fiz. Ele virou a tela da máquina para mim e disse que eu estava de quatro meses.”


Diego está com seis anos e em 2010 vai para a primeira série. Ele é irmão de Rogério de 25 anos que cursa Administração e acabou de ganhar um concurso interno da faculdade, junto com os colegas, como a melhor criação de uma empresa.


Para cuidar dos filhos e conseguir construir a casa, Edneide sempre teve o apoio do marido, Roberto. Eles começaram vendendo verduras na feira. Depois, o marido conseguiu um emprego numa empresa de médio porte e ela não quis ficar parada. Decidiu continuar na feira, mas resolveu trabalhar com algo que ela já sabia fazer e foi vender pastéis. Aprendeu a dirigir e “começou a se virar”. Nesse meio tempo, o marido ficou desempregado e ela não parou.


Com 1 mês de vida, Diego ficava com uma conhecida de Edneide, que recebia R$10 pela ajuda. Quando chegava a hora de amamentar, a mulher levava o bebê na feira para a mãe. “Os clientes já sabiam, daí eu parava um pouco de atender e ir dar leite para ele”, conta com um brilho nos olhos e um sorriso estampado.


Hoje, a vendedora de pastéis tem dois funcionários que a ajudam aos domingos. Assumiu, voluntariamente, a tesouraria da Associação dos Feirantes e chora ao dizer que apesar dos problemas, ama o que faz. “Eu fico emocionada, porque mesmo algumas pessoas desconfiando de mim e do meu trabalho, eu acredito no que eu faço e acredito nos amigos que tenho na feira”.


Ela participa de quase todas as feiras e fatura por dia cerca de R$400. Trabalha como feirante há 19 anos e não pensa em parar. O segredo para o pastel de feira, ser o verdadeiro pastel de feira ela não revela. Mas afirma: “O melhor tempero é o meu”.

Manhã de domingo

Por Jaqueline Bueno e Suely da Silva Lima


Foto: Jaqueline Bueno

Os dias da semana têm nome e sobrenome e vem recheado de atividades: segunda-feira trabalho, escola, academia. Terça-feira mais escola, mais trabalho, menos lazer. É engraçado que o que consideramos o primeiro dia da semana, na verdade seja o segundo. Coisas inexplicáveis! E segue o desfile de dias separados por noites e luas. Quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira. Sábado e domingo são assim, pelados. Órfãos de feira. No nome, pois no fim, são os melhores dias para feirar. Encontrar gente nova, cumprimentar velhos amigos, comprar verduras e legumes mais baratos e mais fresquinhos que os do mercado. Sem contar o clima de camaradagem, a zoada crescente de vozes, o cara da barraca de frutas que insiste para você aceitar um pedacinho “do abacaxi mais doce que o mel”, o pastel cheirando longe, a água pingando do alface recém colhido. Até o peixe e o frango, que nem sempre cheiram bem, neste cenário, faz sentido. Feira é sempre assim.

Mas a de domingo...Ah, a de domingo tem sabor especial, é o dia em que se pode desfrutar a feira, sem pressa, ver o sol apontar preguiçosamente manchando o céu com suas cores vibrantes enquanto os feirantes esticam suas lonas coloridas para receber o público. Um aceno aqui outro acolá, um aperto de mão outro no tomate e assim segue de barraca em barraca.

Foto: Jaqueline Bueno

Quando o Paschoal, o Josué, a Adeusir e o seu João estão chegando para começar o expediente, os boêmios estão encerrando a noitada, na feira. Curtindo a melancolia da manhã domingueira e ansiosos por saciar a fome esquecida durante a noite frenética, fazem volume na barraca de pastel dando um fim ao dia começado no sábado. A feira é uma extensão da balada.

Seu Zé, Dona Maria, Doutor Ricardo, Tia Beth, Professora Mara, Beto, Deco, Lia, Ana, mamãe, papai, Vó, Josué, Marilza, Paschoal... a feira é democrática assim. Todos tem vez e voz. Se conhecem ou não. São amigos ou não. Se reencontram ou não. Mas com certeza voltam. Até o próximo domingo!

Vários cliques, uma história






Fotos: Jaqueline Bueno

Assinado, o bom velhinho

Por Jaqueline Bueno


Hummm!!! O Natal está chegando e com ele vem o presente, o brinquedo, as festas e até o amigo secreto. Isto tudo, óbvio, para aqueles que conseguem com esforço o dinheiro para a compra e a realização do esperado 25 de dezembro. O simbolismo da data, as preocupações de todo o ano ficam em segundo plano, assim como o homem com suas renas já quase não passam mais pela chaminé. De qualquer maneira, muitos ainda aguardam a chegada do “velhinho”. Acha que estou brincando quando falo assim, não é? Mas pode acreditar, Papai Noel existe sim.


Quando criança pensava que Papai Noel tinha barba e cabelos branquinhos como a neve, roupa vermelha, botas, trazia um saco cheio de presentes e dizia: HOHOHO! Sem contar a cartinha, com um pedido, colocada ao lado da árvore com bolinhas e estrelas para que ele pudesse vir durante a noite e deixar o esperado presente de Natal, com a ajuda da mamãe, claro. O tempo passou e continuo seguro de sua existência.


Mas será que hoje as crianças pensam no bom velhinho assim como pensei um dia? Vou contar uma coisa: elas acreditam. Porém, algumas têm uma forma especial de esperar por ele. E os pedidos são os mesmos? Agora infelizmente a resposta é não. E quando digo infelizmente, é por comoção de saber que as nossas crianças sonham com um mundo de papais-noéis, e nem precisam estar vestidos com toda sua parafernália, basta ter um saco cheio de presentes: arroz, feijão, assistência médica, lazer, educação e muito carinho.


Nossa cidade está cheia de crianças na expectativa de ter uma mesa farta e uma família reunida. O importante é lembrar que o Natal dessas crianças deveria acontecer todos os dias. De que adianta uma noite de barriga cheia? Como diriam os sábios: “Ensine-os a pescar, não dê os peixes”.


E se você acha que essa história de velhinho de barba branca e saco de presentes é fábula. Use uma só vez a imaginação, como fez quem escreveu essa a tal fábula do Noel e cultive o sonho de uma criança. Centenas delas morrem a cada dia por falta de comida, de higiene e de um abraço. Por isso, termino aqui calçando minhas botas e... AHHRRR! Ufa! Colocando o saco nas costas e partindo para mais um dia dentre os 365 do ano. FELIZ NATAL! HOHOHO!


*Publicado em dezembro de 2009.

Nós fazemos a verdade todos os dias

Por Jaqueline Bueno


Agora percebo que o fim é imaginário, ele não existe. A vida é puro movimento, ela cíclica, apesar de efêmera. Quando penso que estou terminando algo, começo tudo de novo. Apenas a maneira, a forma e o cheiro são diferentes. Mas o movimento e a energia depositada na ação continuam iguais, intactos.


Aos 17, fui em busca de um tesouro perdido e caí lá pelas bandas do litoral paulista. Durante o primeiro mês, fui de ponta a ponta da cidade de Santos: a pé, de bicicleta alugada, de ônibus, com tênis, sem ele, perdida, achada, triste, ansiosa, animada ou não. Tudo devido a um despejo de umas pessoas que eu havia conhecido há poucos dias. Fui com elas. Paramos em São Vicente, primeiro ponto dos descobridores do Brasil, e foi dali que tentei partir novamente.


Quatro meses. Um tempo para se descobrir que temos certas alergias que, na sua cidade natal, jamais imaginara ter. Uns medos que antes nunca fizeram o sangue percorrer pelo corpo com tanta intensidade. Uma angústia desprezada pelos sorrisos dos amigos que deixei.


Lá tudo enferrujava, eu enferrujei. Com a chuva, um legítimo vendaval que faz o barquinho rodopiar dentro do mar, as palmeiras entortarem ao ponto das folhas tocarem o asfalto, como a vara de condão da fada madrinha ao dar o vestido novo para a Cinderela e há sempre a tal meia noite - , como nos contos, a magia acabou e a realidade veio à tona.


Embaixo de um ponto de ônibus, de guarda-chuva fechado nas mãos, porque se abrisse o perderia em segundos, senti o meu corpo mudar e pude pela primeira vez observar a sensação em cada parte dele.


Em seguida, olhando pelo vidro do ônibus, as gotas de chuva escorriam junto com as minhas lágrimas. Cheguei ao outro extremo, desci e fui até a porta do apartamento em êxtase, sem enxergar ponto algum. Aquela foi uma das piores noites da minha vida.


O relógio fazia um tic-tac infernal. Contei cada segundo com o toque daquele despertador. Sentada na cama. Chorando. Às seis horas da manhã, exatamente, passei as mãos pelo rosto. Desci do terceiro andar sem um tostão no bolso.


Alguns metros a frente vi a primeira pessoa da manhã chuvosa, era o dono da banca de jornal localizada na Avenida principal. Ele se incomodou e perguntou o que acontecia; estava sem condições nenhuma de lhe dar uma resposta, mesmo assim o homem insistiu. A resposta foi “Preciso falar com a minha família”. O maior presente que eu poderia ganhar naquele dia: um cartão telefônico, novinho, de 20 unidades.


Caminhei até o telefone público, passando pelo meu prédio, pela rua da feira, pela ferrovia e, desejava que estivesse em funcionamento para me levar de volta, pela padaria. Disquei os números por instinto e bastou um primeiro “alô” que desabei novamente junto com a chuva torrencial.


As nuances da minha vida não pararam por aí. Voltei para casa, para o meu lar e fui recebida sutilmente pelas pessoas que acreditaram na minha partida e esperavam um retorno mais alegre, mas infelizmente, como dizem por aí, a “juventude é uma caixinha de surpresas”.


Aos 18, entrei na graduação com a certeza de que poderia mudar o mundo por meio das palavras. Ilusão. Ingenuidade. Agora, aos 22, continuo a valorizar o movimento, o ciclo e, principalmente, a relação de todas as coisas pelas quais passei e ainda passo. São intrínsecas, não se separam, estão ligadas na mesma frequência, talvez não ao mesmo tempo, mas sempre juntas. Cazuza dizia “o tempo não pára” e eu completo, “a vida também não”.


Por isso, decide transformar os meus dias e as pessoas que passam por eles. Boas ou não. Gentis ou não. Velhas, novas ou usadas. E fazer da quimera o real. Do intangível, o palpável. Esta é uma parte da minha vida que continua no mesmo ritmo de quando resolvi, pela primeira vez, me mexer e tentei descobrir o que é e qual é a minha realidade.


*Publicado em dezembro de 2009.