Por Jaqueline Bueno
Um saco de estopa, uma bolsa cor-de-rosa e cor de terra. Cabelos desgrenhados, chinelo nos pés, olhar perdido. Na praça sentada. Perspectiva. Esperança. Expectativa. Palavras apagadas do seu mundo.
Mudei o caminho, pois mudei de emprego. E há três meses passo pela mesma praça de segunda a sexta-feira e lá está a mulher. Às vezes acompanhada de mais dois homens, outras vezes sozinha, inerte, na mais profunda reflexão. Da vida? Da morte? Do desespero? Do desamparo?
Hoje, resolvi passar por lá novamente e parar, mas ela não estava. Queria perguntar no que pensava, em que acreditava. Frustração. Também, só depois de 90 dias resolvo me importar com aquela mulher, sem identificação, sem uma casa, sem número, sem nada, moradora da praça por onde eu sempre passo.
O dia perdeu a graça. A ânsia por aqueles minutos de conversa continua presa entre o meu estômago e a minha garganta. Não sinto a temperatura real, pareço estranha. Agora eu passei a ser ninguém, sem peso, sem medida, completamente desconcertada.
Ao ler, ouça “Stranger In This Town”, de Richie Sambora.
* Publicado em agosto de 2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário