
Palavras podem provocar mudanças sociais
Por Jaqueline Bueno
Um pedaço de papel ou de couro de carneiro em forma retangular traz grafado em letras um tanto medievais, de cor preta ou dourada, o nome e a profissão do sujeito que permaneceu sentado aproximadamente 1500 dias em uma sala de aula de uma instituição de ensino superior. Sem contar as várias noites conversando com autores e com os insetos que se suicidavam na tela do computador.
Todos esses dias multiplicados por 60 (minutos = 1h) resultaram numa infinidade de horas de reflexão, de discussões sobre aspectos éticos, morais, técnico e de valorização do seu público, da sua comunidade. E para legitimar esse compromisso com o futuro trabalho é preciso carregar embaixo do braço o inestimável diploma universitário.
Será que é necessária tanta capacidade intelectual para se entender que o jornalismo não é somente para mostrar quem consegue a melhor manchete, para quem quer ser promovido ou para entrar na vibe como VIP? Essa profissão pode ser tomada como vocação, mas acima de tudo deve ser desempenhada com responsabilidade, sem esquecer o seu caráter transformador.
Se o sentimento agora é indignação, raiva ou frustração, não sei. Não se pode aceitar que a obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão de jornalista seja extinta, como foi. Se conseguimos experiência na prática, na teoria é onde adquirimos sabedoria e, consequentemente, senso crítico. Conhecimento não basta. Passar um tempo experimentando é essencial, e o lugar para fazer isso é na faculdade.
Para o jornalismo, há quem diga que o famoso canudo restringiu a liberdade de expressão para quem não possui a formação superior, no entanto, há outros que acreditam que o diploma reafirma o compromisso com a sociedade.
Como contrapõe o jornalista Márcio Rodrigues, “Ninguém pede o diploma ao médico que vai operá-lo, mas bota fé na sua experiência profissional, esquecendo-se que esse mesmo profissional passou por uma formação específica”. Generalizar pode não ser a melhor escolha, mas infelizmente muitos respondem por um.
O jornalista e professor de comunicação, Erasmo de Freitas Nuzzi, em entrevista ao jornal “Unidade” do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, contou que ele e mais 15 amigos que já trabalhavam na área sentiram a necessidade de cursar a faculdade. “Acompanhávamos todo o esforço da Associação Brasileira de imprensa (ABI) para a instalação de um curso superior para essa área no Brasil. No meu caso, além da vontade de estudar, da curiosidade por saber mais de jornalismo, decidi fazer o curso também por acreditar que a formação superior era uma conquista da nossa categoria, nos dava status de profissionais”.
A defesa da obrigatoriedade do diploma é uma maneira de se mostrar a favor da profissão e da valorização dos profissionais. Defendendo os direitos humanos e praticando aquilo que coletivamente chamamos de ética. Além disso, o jornalista tem garantia dos seus direitos trabalhistas, de segurança profissional e também contribui com a evolução da categoria.
O papel, neste caso o diploma, foi uma invenção importante para os nossos dias. Ele em si talvez possa não ter um significado extremo do mesmo modo que a prática da profissão, porém seu poder simbólico e tudo o que a pessoa ganhou antes de obtê-lo, no sentido de conhecimento e saber, carrega os ideais do fazer jornalismo. Além disso, eu repito, a regulamentação da categoria garante os direitos individuais do profissional, difunde conhecimento por meio das informações, dos fatos e, sem dúvida, educa toda uma sociedade.
*Publicado em junho de 2009
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